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sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Negra



Quando as luzes
do fim do túnel
me ofuscavam
na escuridão
encontrei meu caminho. 

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Dentro da noite



Você corria por dentro, eu corria por fora; você em pista de grama, eu em pista de areia. Você era uma égua de raça, meu amor, e se chamava Helena de Tróia; eu era um cavalo de criação nacional e meu nome era Black & White. Você era do vermelho castanho daquela rosa de veludo, chamada Príncipe Negro, eu era todo preto manchado de branco no pescoço. Éramos dois belos animais e estávamos emparelhados na frente, numa tropeliada cheia de ritmo, muito longe dos outros que nos perseguiam inutilmente num corpo a corpo incomparável.

Não, ninguém me montava; corríamos libertos por uma campina, desaparecemos debaixo das árvores de um bosque, chegamos a uma planície onde existia apenas um anúncio de gasolina americana. E além desse descampado, sentamos sem dizer nada com nossos olhos grossos e ternos de cavalo, que o mar ao longe estava batendo e tremia, as ondas se empinavam em desafio, crinas de espuma eriçadas, relinchando ao vento. Era um mar mais estranho que o mar, cavalos de água se erguiam e desmanchavam, nós corríamos de encontro a ele em galope igual.

Ah!O mar não deteve a nossa corrida, mas avançamos sobre as ondas, as nossas patas mal tocando a água verde, livre sobre o mar livre, focinho contra focinho, ilharga contra ilharga, passamos debaixo do arco-íris e decolamos. Voávamos perto das vagas que molhavam as nossas bocas com suas gotas salgadas quando, de repente anoiteceu se qualquer solidão. Sentia o calor do teu grande corpo e meu coração me feria como se um punho fechado batesse com força em meu peito. Sim, sei perfeitamente, qualquer Freud de porta de venda pode explicar o meu sonho; mas nunca poderá roubá-lo.

Texto: Paulo Mendes.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Arapuca- PB

"Giga Brow : - Senna Vai entrar um swell, vem pra cá.

Senna : - To chegando..."





 Destino, Arapuca, extremo sul da cidade de João Pessoa-PB. Praia pouco visitada por banhistas, mas muito adorada pelos surfistas e bodyboarders que por ali frequentam. 
Sua localidade é de difícil acesso, quase uma trilha, morro íngreme, em volta protegida por enormes fendas com pouca vegetação.

 Areia grossa e pesada, estendida por toda a margem, dependendo do horário da maré é claro.
O mar é extremamente forte, porém pequeno, as ondas formam a quase seis metros da faixa da areia e arrebentam a aproximadamente dois metros da mesma.
As ondas são especificas para a pratica do Bodyboarding, pois além de serem pesadas e fortes, cavam, formando um assustador e rápido tubo.

 Os atletas locais que fazem dali seus refúgios de prazeres, a maioria bodyboarding, de potencial notável, formam uma excelente equipe, tendo em especial o atleta profissional Guilherme Mesquita, o qual numa competição em Niterói desbancou o "cara" que inventou a maioria das manobras do esporte, Mike Stewart.
Também vale lembrar os que não são profissionais, mas que levam a parada a serio e com muito amor.

 Por fim, estou muito grato a todos que fizeram daquele repetido final de semana um enorme canhão de surpresas. Agradeço ao Giga Brow por estar lado a lado, ao Onofre e ao Mike  por terem feito todo o corre dos equipamentos. E da próxima vez tentarei ficar todo um final de semana.

Foto: Mike


quarta-feira, 30 de maio de 2012

A curta historia de um pobre granadeiro e regadora de trincheiras.




Os vasos das plantas estão quase vazios, ele prefere assim. Ela não. Rega toda manhã para cultivar e manter as que restam.
 Ele se contenta com tudo, ela, dá o seu melhor e sonha com torres altas, navios, horizontes, casamento.

 Cinzeiros sobre o tapete, cheios de pontas envelhecidas de cigarros, cocaína espalhada sobre os corpos do outro casal ainda adormecido, revirados, envoltos num cobertor corroído pelas traças.

 Um livro rasgado, uma cópia, agora inútil do Humano Demasiado Humano. Ele a insulta por ficar tão longe, quando a resposta para todos os seus problemas é apenas a presença dela, ela, esconde o sorriso num mesmo movimento em que rebaixa a cabeça e a esconde no peito dele. Ela diz que o ama e ele a ama também.



sábado, 19 de maio de 2012

Ode a Augusto dos anjos e as eternas Quimeras de cada alvorecer.


Logo percebe que as feras se contorcem nos arbustos a espreita-lo, num caminho que só a ele interessa. Elas se aproximam, balançam o rabo, se fingem de morta, rolam por cima das folhas, mas mesmo assim não retém à atenção do nobre homem.

De surpresa, já quando chegava perto da ponte, que dava para o seu chalé, é tomado por um sorriso ímpar entre as feras, mas quando se aproxima para acariciar o doce felino, sente um arder, profundo, nota que enfurecidas presas cravadas no seu robusto corpo. Aos gritos, que ecoam por toda floresta, se vê agora sem um braço.  As feras se sentem providas de um bom pedaço de carne, em seguida, o nobre homem move-se pausadamente para uma caverna bem embaixo de uma arvore já quase aniquilada pelo intenso inverno e assiste a todas as famintas feras devorarem seu braço.



Assim permanece até adormecer, imagina que está sobre uma coluna suspensa nas nuvens, equilibrada por pedaços de corpos amontoados. Entre tantos restos mortais, como, tórax, cabeças, reconhece seu braço, ainda com o relógio que sua mãe havia li dado, dias antes de morrer.

Aproxima-se, retira seu braço com esforço, com isso desequilibra a coluna, mas antes de ouvir tamanho impacto ao chão, que mesmo ainda de nuvens fazia um tremendo barulho, se vê novamente agora arrastado para o covil das feras onde admira cada pedaço seu sendo arrancado por famintas mordidas. Chateia-se com os filhotes ao brincarem com seus dedos, com leve mordidas, a qual o faz rir, e rir naquele momento era provocar mais ainda as esfomeadas feras.
E por fim, tudo acaba quando seus olhos são devorados.


quarta-feira, 25 de abril de 2012

Eu sinto medo.



Como um oceano fundo, vivo, me afundo nos teus seios e te faço sussurrar palavras que ainda não entendo. Com os olhos fechados você me diz pra continuar, submerso no mar. Já sem o mastro os navios fogem a esmo na tempestade feroz de meus dentes a perfurar a carne virgem. Com minhas mãos suspendo teu corpo febril.

Ouvimos passos, vozes, mas nada impede de continuarmos a navegar no oceano que tu tanto desejas. Já quase sem oxigênio, tateio os cabelos. Suas unhas cravam com tal ferocidade e desejo nos meus peitos, já descobertos. Rapidamente, quando desço pra ver as maquinas, de súbito te ouço gritar:  -Não, por favor!

 Ainda a esmo, agora por sua vontade, me perco ao redor das curtas e grossas coxas. Com o joelho escancarado e livre pra fechar a qualquer disparato dos meus dedos.
Por fim, ancoramos as margens de longos suspiros, onde já cansados de remar queimamos nossos remos.
 A tempestade que te toma todo o dia virá mais tarde hoje.

Nota: A música é aquela do filme, que por ironia do destino tocou, assim quando entrei na sala.
Duffy- I'm Scared.

domingo, 15 de abril de 2012

Horizonte neblinado



Descuidada, ela pisa nas azaleias que as velhas senhoras cismam em arrumar num canto da calçada. Suspende como um passo de valsa, calmamente com as pontas dos dedos o vestido com medo que se rasgue entre os galhos secos.

Numa mesa situada no jardim, uns  velhos senhores, enquanto jogavam dominó, despreocupados com a vida, abaixam o pescoço num movimento uniforme, atentos para o desinteresse do vestido em cobrir as lindas pernas da moça.
Sem querer, deixa escapar um riso, tímido,  revelando aos seus adoradores o farol mais radiante que já viram em todas suas longas vidas. Um sorriso falho, com um charme único demonstrando um orifício apenas na maça do rosto.

Assim como as flores eram afastadas pelo vento a moça dava adeus, revelando aos despreocupados um interesse maior em permanecer nesse mundo.
E antes de se perder no horizonte neblinado, ela some, mas antes, acena, mais uma vez, deixando escapar o doce sorriso.

Foto:
Ju Macedo

sábado, 24 de março de 2012

Gen

Após a queda da bomba nuclear em Hiroshima, um homem reconta sua historia e pacificamente luta contra armas nuclear.  Keiji Nakazawa, seu verdadeiro nome, que no mangá se encarna na pele do jovem Gen Nakaoka.  

É dessa forma que é me apresentado o “Gen”, uma bela historia, desenvolvida numa forma de literatura pouco ainda de interesse das bibliotecas do Brasil. Além de imagens chocantes, como a de pessoas correndo pelas ruas com as peles derretendo. A historia aborda um censo critico e faz do absurdo da guerra uma forte forma de reconstruir a vida.

E pra quem pensa ainda que quadrinho é coisa pra criança, se liga só na exposição em São Paulo direcionada a essa arte.
http://quadrinhos51.wordpress.com/


quarta-feira, 21 de março de 2012

Judas e a misericórdia não alcançada.




Logo ao nascer seus pais não tiveram dúvidas, receberia o nome de um  santo. Mantiveram a promessa de anos atrás por uma graça alcançada.  Só não imaginariam o mal que poderiam fazer ao filho. Com um peso eterno, carregava no nome a marca da traição, um fardo não tão heroico como o de um deus grego, mas sim, ridícula, promiscua como qualquer brincadeira sem graça em prol da tristeza alheia.
Judas não se importava muito com as piadas relacionadas ao seu nome, ele só odiava as comparações que faziam com o sujeito, traidor.

Num dia comum, chuvoso de janeiro, Judas se levanta da sua cama de solteiro, olha pela janela, com os olhos semicerrados, sente como se aquele dia não fosse como os de antes, alguma coisa o esperava lá fora. As ruas estavam vazias, nenhum carro de som atrapalhava seus pensamentos, nenhuma loja com as músicas do momento em versão ainda mais chata, anunciava as promoções imperdíveis. Apenas ouvia buxinhos por todos os lados, como se aquele dia ninguém o incomodasse com as brincadeiras mais idiotas que existia.

Olha o relógio, como sempre, vai ter que pegar um atalho até chegar ao trabalho, como de rotina, estava atrasado. Retira qualquer peça do guarda roupa, vai até a cozinha, frita dois ovos e esquenta o café de ontem.

Ao sair de casa, pensa alto: - Já não são mais os mesmos dias...
Percorre aquela longa calçada, passa na primeira loja que ainda estava fechada, um pequeno sex shop, visitado pelas freiras da igreja, e como um ataque surpresa, desperta ao ouvir uma voz gritar seu nome:
 - E ae Judas, quem você vai trair hoje?

Com receio que prosseguissem toda aquela chatice, ignorou as palavras de um certo imbecil punheteiro que se anunciava do sex shop.
Caminhando a frente, se depara com uma moto parada e com a chave na ignição. Parou por um instante, pensou que aquilo poderia ser um presente, ou uma câmera escondida. Lembra que enquanto esperava a fila enorme do banco pra pagar a conta de luz, assistia um Dvd especial só de pegadinhas, as piores, mas mesmo assim o divertia.
Sentia medo de dali pra frente ele ser o motivo dos risos de quem espera a enorme fila do banco.

 Com um rodopio de leve do pescoço, ignora o veiculo e torna a seguir pela longa calçada.  Ao atravessar a rua ouve uma voz, feminina, acompanhada com riso, que dizia:
-Muda de vida Judas, não percebe que tu não eis ninguém! Ninguém, kkk.
Sendo assim, sua paciência cessa. Olha pra traz, com ar colérico, para no meio da pista, mas não consegue ver ninguém, a calçada estava vazia, será que estava ouvindo vozes, pensou, foi o que sua mente sã revisou em seus últimos instantes. Enquanto voltava o olhar de volta ao caminho, um carro que vinha em sua direção o acertou em cheio.
Voou pra bem alto, dando varias voltas no ar, pela altura que se seguia, teve tempo de relembrar os muitos atos altruístas que praticou naquela vida, reconhece que seus esforços não serviram de nada. Ao tocar o chão levanta a cabeça com dificuldade e distingue cada rosto que há ao seu redor: Anjos, Mulheres, Mendigos, Engenheiros, Médicos, Policias, Cachorros, Políticos, Radialistas, Advogados todos num só intuito, olhar e admirar os restos mortais expostos no meio da rua.


sábado, 3 de março de 2012

Um canto a Neil Perry

Quando as velas se rasgarem,
quando os astrolábios se quebrarem
vamos remar contra as águas vivas.
Os diplomas vão soar
vidas amargas...

Enfim entoaremos:
"Oh capitão, meu capitão."
Seguir meu coração,
mesmo ele estando enganado.
Atoando uma historia de uma noite de verão
em dias de completa evasão.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

As ultimas moedas



É apenas tua presença que enche meu presente de alegria , e com pitadas de ciúme criam a constelação mais brilhante do universo, que ao longe irradia de meus olhos raios que ultrapassam as estrelas de lata. Por conta disso perco as palavras, as reações do corpo e mente, quando estou ao teu lado, e é difícil dizer pra mim mesmo que vou ter que te deixar ir, só de pensar os espelhos da meu quarto se quebram.

 Mas como só me contentar com sorriso, beijos e cheiros?, Não você está seriamente enganada, nada disso me fez me prender a você, porem tua presença somada ao teu sorriso, teu cheiro, tua dicção rápida, teus olhos, teus lábios, ao se chocar aos meus, teu cabelo encaracolado, e mais algumas outras coisas que prefiro dizer ao teu ouvido, me fizeram apostar o resto das moedas do amor em nós. Eu sei que vivo ainda a sombra da tua incerteza. Mesmo assim, como já te falei, “sofrer em teus braços é meu prazer, viver em mil pedaços é tudo pra mim”.

Agora é tarde, pra dizer que vai acabar tudo bem, que eu vou me virar pra um lado e me abdicar de você... Por hora me conformo com a humilde certeza que há em teus olhos , mas é inevitável não sonhar.



Para a rosa mais linda do jardim.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

As vidraças da janela ( Quem sabe amanhã talvez.)



Lá fora uma chuva torrencial chacoalha as azaleias secas pelo intenso inverno. Até pouco tempo atrás as crianças pulavam nas poças, e daqui da janela os cantos ainda arranhados pela ultima transa desabrocham num sorriso tímido. Agora ninguém lá fora, ninguém aqui dentro, apenas algumas fotos penduradas em armadores contaminam o quarto com felicidade.
O vento frio assobia pelas frechas dos buracos da janela. Os remendos com fita adesiva que fiz não servem de nada, acho que os antigos donos desse quarto eram detestáveis, pois as vidraças garantem isso, sinal de repulsa por qualquer um que passe por esse terreno baldio.
Volto pra debaixo do cobertor, a cama está ainda quente...O assobio, agora se torna canção estridente.
Um odor de comida estragada chega até minhas narinas, as luzes se apagam, pego o celular, e com sua luz fraca clareio até encontrar na bagunça da mudança, alguma vela. Acendo uma ao lado da cama, bem onde coloquei alguns livros que tenho que ter para meu próprio bem ao meu lado.
Ouço passos no corredor, meu coração de súbito chega a acelerar de forma descontrolada...Batem na porta, me coloco em pé, mas logo todo desfecho de felicidade acaba, quando sigo para a porta e ouço um casal, no apartamento ao lado chamando minha possível visita.
-Aqui...um nome qualquer que não entendi.
Volto pra cama e fico até a chuva passar, e já marquei na agenda que vou mandar consertar todas as vidraças que estão quebradas. Amanhã, acho.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Um passo

Posso ser o cara mais imbecil da cidade e não ter muito o que falar, e as vezes falar coisas em vão. Posso escrever versos tortos, que não te dizem nada de importante, e nem ser o cara mais aclamado da escola.
Queria mesmo mudar, mas não é tão fácil assim...te dizer palavras firmes, centradas, mas sou muito impulsivo. As vezes me lembro do dia em que me falou que não se importava de namorar um cara mais velho...mal sabendo que toda a minha idade não significa posse alguma de meus atos. Prezo muito o respeito, sinceridade e humildade, no entanto existem horas que me pego fazendo besteira, falando coisas sem pensar, apenas pra não deixar o momento morrer. Tudo isso significa que tenho que dar um passo de cada vez. Embora tenha essas incertezas, impulsividades, uma coisa é certeza, quero viver uma história sem fim ao teu lado. Como havia prometido: pular nas poças, correr entre os gigantes de pedra sem ter vergonha de sermos tão pequenos e mostrar ao mundo nossos sorrisos, pois valem muito, mais que qualquer outra coisa que há.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Sem valsas no fim do dia

Para se ler ao som da música Cold Desert do King of Leon

  Acordei no meio da tarde com uma forte dor no estômago. Resolvi acender um cigarro antes de morrer. Peguei o isqueiro e antes de ir direto na ponta do veneno, queimei a ponta do meu dedo. Serviu pra entender que ainda estava vivo. Três dias inteiros e não saía de casa, comia apenas uma vez, dormia mais que o normal (também não chegava a muito, 6 horas no máximo).

Levantava, lia alguma coisa no jornal deixado por debaixo da porta, algum livro parado no meio ou até mesmo as janelas. Tinha que ler as janelas todos os dias. As calçadas se enchendo e esvaziando, o leiteiro que gritava, as pessoas chegando do trabalho, era tudo uma prosa chula, mas rica. Mesmo assim não sentia vontade de sair de casa. De repente o cigarro acabou, um monte de cinzas juntou-se a outro no meio do chão e percebeu que andava meio desligado. Começou a tentar lembrar das coisas, não sabia nem porque estava daquele jeito. O que aconteceu? Como vim ficar três dias em casa?

A primeira imagem que lhe apareceu na mente vazia foi como retrato desbotado, estático e bonito, um sorriso aberto, covas na bochecha, olhos rasgados, braços longos, pernas bonitas, um corpo delineado. A imagem foi ficando como um filme bem curto, ganhou movimento, bem pouco. Ela começou a andar e colocou a cabeça entre as mãos, morrendo de rir. Só lembrava disso, ainda não conseguia entender o que ela tinha feito, se tinha ido embora, se ela tinha ferido, se tinham desistido, se machucado, morrido, ou o quê. Enquanto perguntava isso para si, passou a mão no rosto e percebeu o quente caldo molhando a cara suja que preservava.

Chorava silenciosamente, sem soluço, sem solução, resoluto, absolutamente. Acendeu outro cigarro, tentava entender porque chorava se a imagem sorria, por que era tão bonita e lembrava tão pouco? Tragou e jogou fumaça no ar. A noite já vinha e as garrafas de vinho espalhadas pela casa agora eram como sombras de prédios aterrorizando pela porta que ia pra cozinha.

 
Por: João Baltazar

sábado, 14 de janeiro de 2012

Diálogo entre Bastian e a Morte multicor.


Numa linda manhã, enquanto me debruçava no livro História sem Fim, e depois de várias tentativas falidas de conseguir me recuperar dos baques das reprovações de quase todos os vestibulares, as letras do livro saltaram me soqueando na parede frontal da cabeça com essa passagem:


Diálogo entre Bastian e a morte multicor:
O senhor só conseguirá conhecer o caminho de Fantasia quando, disse Graogman, através dos seus desejos. É só fazê-lo indo de um desejo para o outro. Aquilo que o senhor não deseja, não conseguirá atingir. É esse o significado da palavra “perto” e “longe” neste lugar. E também não basta querer ir embora de um lugar. É preciso que se queira ir para outro. Deixe que os seus desejos o conduzam.

sábado, 7 de janeiro de 2012

João de Thor


Thor, deus nórdico, conhecido por afrontar o mal com um enorme e poderoso martelo não difere muito de João Pereira Gomes, uma das muitas crianças moradoras do interior da Bahia, que tem sua infância tomada por obrigações e deveres que não cabe a sua idade.

 Sem muitas pretensões divinas o garoto de oito anos, João Pereira Gomes, umas das crianças que vive nessa exploração ajuda a sustentar seus seis irmãos com o dinheiro que ganha trabalhando numa pedreira. Quando perguntado sobre qual era o seu maior sonho, ele diz que apenas é ajudar seus pais e dar aos seus irmãos o que ele não teve. A sua rotina de trabalho na pedreira é de doze horas por dia, cinco vezes por semana, garantindo a ele cinquenta reais por quinzena.

 Embora em nosso país exista muitos programas do governo que tentam acabar com a exploração, como por exemplo o PETI - programa de irradicação do trabalho infantil- que garante não só ao jovem mas a família uma renda fixa para ajudar nas despesas da casa, ainda necessitamos de uma maior interação entre estado e município para que nossas crianças não se transformem em Deuses marteladores de eternas pedras.