Pages

sábado, 21 de janeiro de 2012

Um passo

Posso ser o cara mais imbecil da cidade e não ter muito o que falar, e as vezes falar coisas em vão. Posso escrever versos tortos, que não te dizem nada de importante, e nem ser o cara mais aclamado da escola.
Queria mesmo mudar, mas não é tão fácil assim...te dizer palavras firmes, centradas, mas sou muito impulsivo. As vezes me lembro do dia em que me falou que não se importava de namorar um cara mais velho...mal sabendo que toda a minha idade não significa posse alguma de meus atos. Prezo muito o respeito, sinceridade e humildade, no entanto existem horas que me pego fazendo besteira, falando coisas sem pensar, apenas pra não deixar o momento morrer. Tudo isso significa que tenho que dar um passo de cada vez. Embora tenha essas incertezas, impulsividades, uma coisa é certeza, quero viver uma história sem fim ao teu lado. Como havia prometido: pular nas poças, correr entre os gigantes de pedra sem ter vergonha de sermos tão pequenos e mostrar ao mundo nossos sorrisos, pois valem muito, mais que qualquer outra coisa que há.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Sem valsas no fim do dia

Para se ler ao som da música Cold Desert do King of Leon

  Acordei no meio da tarde com uma forte dor no estômago. Resolvi acender um cigarro antes de morrer. Peguei o isqueiro e antes de ir direto na ponta do veneno, queimei a ponta do meu dedo. Serviu pra entender que ainda estava vivo. Três dias inteiros e não saía de casa, comia apenas uma vez, dormia mais que o normal (também não chegava a muito, 6 horas no máximo).

Levantava, lia alguma coisa no jornal deixado por debaixo da porta, algum livro parado no meio ou até mesmo as janelas. Tinha que ler as janelas todos os dias. As calçadas se enchendo e esvaziando, o leiteiro que gritava, as pessoas chegando do trabalho, era tudo uma prosa chula, mas rica. Mesmo assim não sentia vontade de sair de casa. De repente o cigarro acabou, um monte de cinzas juntou-se a outro no meio do chão e percebeu que andava meio desligado. Começou a tentar lembrar das coisas, não sabia nem porque estava daquele jeito. O que aconteceu? Como vim ficar três dias em casa?

A primeira imagem que lhe apareceu na mente vazia foi como retrato desbotado, estático e bonito, um sorriso aberto, covas na bochecha, olhos rasgados, braços longos, pernas bonitas, um corpo delineado. A imagem foi ficando como um filme bem curto, ganhou movimento, bem pouco. Ela começou a andar e colocou a cabeça entre as mãos, morrendo de rir. Só lembrava disso, ainda não conseguia entender o que ela tinha feito, se tinha ido embora, se ela tinha ferido, se tinham desistido, se machucado, morrido, ou o quê. Enquanto perguntava isso para si, passou a mão no rosto e percebeu o quente caldo molhando a cara suja que preservava.

Chorava silenciosamente, sem soluço, sem solução, resoluto, absolutamente. Acendeu outro cigarro, tentava entender porque chorava se a imagem sorria, por que era tão bonita e lembrava tão pouco? Tragou e jogou fumaça no ar. A noite já vinha e as garrafas de vinho espalhadas pela casa agora eram como sombras de prédios aterrorizando pela porta que ia pra cozinha.

 
Por: João Baltazar

sábado, 14 de janeiro de 2012

Diálogo entre Bastian e a Morte multicor.


Numa linda manhã, enquanto me debruçava no livro História sem Fim, e depois de várias tentativas falidas de conseguir me recuperar dos baques das reprovações de quase todos os vestibulares, as letras do livro saltaram me soqueando na parede frontal da cabeça com essa passagem:


Diálogo entre Bastian e a morte multicor:
O senhor só conseguirá conhecer o caminho de Fantasia quando, disse Graogman, através dos seus desejos. É só fazê-lo indo de um desejo para o outro. Aquilo que o senhor não deseja, não conseguirá atingir. É esse o significado da palavra “perto” e “longe” neste lugar. E também não basta querer ir embora de um lugar. É preciso que se queira ir para outro. Deixe que os seus desejos o conduzam.

sábado, 7 de janeiro de 2012

João de Thor


Thor, deus nórdico, conhecido por afrontar o mal com um enorme e poderoso martelo não difere muito de João Pereira Gomes, uma das muitas crianças moradoras do interior da Bahia, que tem sua infância tomada por obrigações e deveres que não cabe a sua idade.

 Sem muitas pretensões divinas o garoto de oito anos, João Pereira Gomes, umas das crianças que vive nessa exploração ajuda a sustentar seus seis irmãos com o dinheiro que ganha trabalhando numa pedreira. Quando perguntado sobre qual era o seu maior sonho, ele diz que apenas é ajudar seus pais e dar aos seus irmãos o que ele não teve. A sua rotina de trabalho na pedreira é de doze horas por dia, cinco vezes por semana, garantindo a ele cinquenta reais por quinzena.

 Embora em nosso país exista muitos programas do governo que tentam acabar com a exploração, como por exemplo o PETI - programa de irradicação do trabalho infantil- que garante não só ao jovem mas a família uma renda fixa para ajudar nas despesas da casa, ainda necessitamos de uma maior interação entre estado e município para que nossas crianças não se transformem em Deuses marteladores de eternas pedras.