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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

A amarga história de um rei e seus passos de volta pra casa ( Ou de como voltar as horas nas noites em claro)

No bolso carrega três chaves, que pesam e balançam sem ritmo. Seus passos em falsos, pisando em pardais mortos se perdem em íngremes calçadas e as putas das esquinas acenam em sua direção, afins de trepar em troca de abrigo. 


Mas uma coisa o tira da tranquilidade, são as chaves que mais parecem sinos que batem em desordem, em ritmos desarmônicos. Com um relance de memória lembra que deixou duas cervejas pagas no bar, não pretende voltar. Passa pelas ruas soprando câncer e arrotando precauções. Acena pra um conhecido do outro lado da rua, alias, ao menos sabe quem pode ser.

O sapato está úmido, cada vez mais pesado, por não entender a geografia das poças de lama. Chega no portão de sua casa, percebe ao enfiar as mãos nos bolsos que as chaves já não se encontram mais ali. Num movimento de funil com as mãos, levantando o pescoço, solta primeiros fonemas de palavras de ajuda, no entanto, é tomado pelo susto da madruga tocando seu ombro, avisando que é preciso manter o silencio.

Senta com os braços dobrados apoiando a cabeça pesada, olha no relógio, seus olhos se arregalam de tal forma que quase saltam, o movimento é tão brusco que sua cabeça quase cai. Como um magico, volta o relógio para traz do pulso e gira um, dois botões e por um curto instante seus olhos se fecham ao serem tocados pelo suor que escorre da testa. Nesse curto tempo não percebe o que fez e nem onde apertou. Mas com um grito de euforia, volta os ponteiros que indicam à meia noite, apenas por voltar.

Uma pequena fabula

Ai, ai, o mundo fica menor a cada dia. No inicio era tão grande que eu sentia medo, vivia correndo e correndo, e fiquei contente quando enfim avistei, à distância, as paredes à direita e à esquerda, mas essas grandes paredes se estreitaram tão depressa que eu já cheguei ao último aposento, e ali no canto está a ratoeira para a qual devo correr.

 - Você só precisa mudar de direção.
Disse o gato, e o devorou.
 


Texto:Franz Kafka