Como um oceano fundo, vivo, me afundo nos teus seios e te faço sussurrar palavras
que ainda não entendo. Com os olhos fechados você me diz pra continuar,
submerso no mar. Já sem o mastro os navios fogem a esmo na tempestade feroz de
meus dentes a perfurar a carne virgem. Com minhas mãos suspendo teu corpo
febril.
Ouvimos passos, vozes, mas nada impede de continuarmos a navegar no
oceano que tu tanto desejas. Já quase sem oxigênio, tateio os cabelos. Suas unhas
cravam com tal ferocidade e desejo nos meus peitos, já descobertos.
Rapidamente, quando desço pra ver as maquinas, de súbito te ouço gritar: -Não, por favor!
Ainda a esmo, agora por sua vontade, me perco ao redor das curtas e grossas coxas.
Com o joelho escancarado e livre pra fechar a qualquer disparato dos meus
dedos.
Por fim, ancoramos as margens de longos suspiros, onde já cansados de remar queimamos
nossos remos. A tempestade que te toma todo o dia virá mais tarde hoje.
Nota: A música é aquela do filme, que por ironia do destino tocou, assim quando entrei na sala. Duffy- I'm Scared.
Descuidada, ela pisa nas azaleias que as velhas senhoras cismam em arrumar num canto da calçada. Suspende como um passo de valsa, calmamente com as pontas dos dedos o vestido com medo que se rasgue entre os galhos secos.
Numa mesa situada no jardim, uns velhos senhores, enquanto jogavam dominó, despreocupados com a vida, abaixam o pescoço num movimento uniforme, atentos para o desinteresse do vestido em cobrir as lindas pernas da moça.
Sem querer, deixa escapar um riso, tímido, revelando aos seus adoradores o farol mais radiante que já viram em todas suas longas vidas. Um sorriso falho, com um charme único demonstrando um orifício apenas na maça do rosto.
Assim como as flores eram afastadas pelo vento a moça dava adeus, revelando aos despreocupados um interesse maior em permanecer nesse mundo. E antes de se perder no horizonte neblinado, ela some, mas antes, acena, mais uma vez, deixando escapar o doce sorriso. Foto:Ju Macedo